terça-feira, 29 de abril de 2014

Marcha das vadias: história e o porquê do nome.

(Maria Olinda Vaz, advogada, mãe, militante do movimento feminista na primeira Marcha das Vadias de Uberaba-MG)

A Marcha das vadias surgiu em Maio de 2011, em Toronto no Canadá. Ela aconteceu com o intuito de contestar um policial que palestrava em uma universidade e falava sobre a segurança no campus, ele direcionou sua fala às mulheres e disse a elas para que não se vestissem como "vadias" para evitar sofrerem violência sexual. Desta forma, ele expôs seu pensamento que é reproduzido culturalmente de que as vítimas são culpabilizadas da violência que sofrem.

A vigilância sobre o corpo feminino esteve presente ao longo da história da humanidade e das sociedades em várias culturas e ainda existe nos dias atuais. Essa vigilância acontece cotidianamente devido as pessoas acreditarem que a maneira de vestir, agir e locais que as mulheres frequentam na cidade devem ser restritos por não ser um ambiente que devam estar. Esta limitação se dá pelo fato de que quando as mulheres ocupam um espaço que não é acolhedor para ela, seu corpo é tratado no espaço público como uma "coisa" pública também, onde todos podem pegar e dizer coisas obscenas. E isto não quer dizer que nos espaços privados as mulheres não estão sujeitas a sofrerem violência física, sexual e psicológica, todos os espaços podem ser locais perigosos dependendo da condição, basta ser mulher para estar sujeita a estes tipos de situações.

A cidade se organiza num espaço que ainda é marcada pela existência de dois papéis exclusivos destinados às mulheres: ou você é “vadia”, “vagabunda” e ”puta” (slut)/ou você é “esposa” e “moça de família.”  A Marcha busca trazer uma ruptura com a reprodução sistêmica do cotidiano, questionando os dispositivos de poder sobre o corpo que estão subordinados a uma relação de poder.

Muitas pessoas ainda não entendem o motivo do termo "vadia" numa marcha que luta contra a opressão sexista, palavra esta que é utilizada todos os dias para desqualificar as mulheres e deprecia-las com uma conotação sexual negativa. Algumas pessoas acham ineficiente este termo, mas não entendem que existe uma intenção de reesignificar a palavra, usada de forma irônica com o intuito de colocar em pauta  o fato de que, qualquer mulher que desagrade alguém corre o risco de ser chamada de vadia,  usando ou não roupa curta, basta ser mulher e não agir de acordo com o que é esperado pela sociedade. 

Outra questão que é muito colocada por quem não entende a marcha das vadias é a de não entender que o movimento questiona e critica a comercialização do corpo da mulher para fins comerciais, mas que ao mesmo tempo utiliza seu corpo a mostra para reivindicar direitos humanos. 

O fato é que a marcha não desqualifica as mulheres que estão expondo seu corpo com fins comerciais, até porque, uma das características da marcha é também difundir a solidariedade entre as mulheres. Nossa critica é para as pessoas que estão por traz do contexto da utilização da imagem da mulher a fim de coloca-lo num patamar objetivado. Quem são as pessoas que produzem este tipo de publicidade? Quem é o público alvo destas publicidades? O problema está em quem cria, produz, escreve, dirige, e principalmente, neste sistema que tem a capacidade de transformar tudo em mercadoria, inclusive as mulheres.

Ano passado tivemos a primeira marcha das vadias em Uberaba, mas no próximo post explicamos melhor como foi e como este ano será! Logo mais teremos maiores informações!